SISTEMAS DE ECONOMIA SOLIDARIA


SISTEMAS DE ECONOMIA SOLIDÁRIA (ou ECONOMIA CIRCULAR SAGRADA)

Quando fui convidada pela primeira vez para o Tear (mandala ou flor da abundância) a primeira coisa que fiz foi pesquisar no Google de que se tratava. O motor de busca foi categórico e condenou-o à pena de morte. Rejeitei imediatamente, indignada com a pessoa que me queria arrastar para um golpe público e notório. Porém, com o passar do tempo, conheci pessoas que participavam ativamente desses movimentos de “economia solidária”, muitas delas excelentes pessoas e outras, pelo menos para mim, muito inteligentes para se deixarem enganar tão facilmente com algo de conhecimento público.

Muitos realizaram os seus sonhos, como viajar, comprar carro, terreno ou construir casa, entre outros.

Como advogada, decidi aprofundar o assunto, perguntando-me o que seria essa forma tão controversa de ganhar dinheiro. A primeira coisa que fiz foi deixar de lado a superficialidade com que milhares de artigos publicados se referem ao assunto. Na sua maioria, quase todos, indicam que se trata de um “golpe de pirâmide matematicamente inviável” mais antigo que o cocar, mas nenhum explica realmente como a suposta fraude é realizada. A imprecisão dos seus argumentos é alarmante. Recorrem também a testemunhos de pessoas que “deram” o seu dinheiro e nunca “receberam” nada, sem explicar as razões pelas quais não atingiram a meta.

Estas são as minhas humildes contribuições sobre este tema. Vou analisar a frase típica "é uma fraude/esquema de pirâmide/matematicamente inviável".

"É UMA FRAUDE"

Golpe é um crime que consiste em enganar outra pessoa, com fins lucrativos ou danos materiais.

Existe fraude nos chamados sistemas de economia solidária?

Definitivamente não. 

Em nenhum momento a pessoa convidada a participar é enganada. São dois requisitos básicos e claros: 1) dar o presente e 2) convidar duas pessoas.

Nas notas que li há testemunhos de pessoas que se sentiram enganadas. Mas... Eles não sabiam que parte do compromisso era convidar 2 pessoas? É muito difícil, quase impossível, para quem vai doar € 1.010 (ou qualquer valor que dependa do tear) não ver essa dúvida satisfeita.

É claro que não há dúvida de que o sistema não é perfeito nem garantido. Esses depoimentos geralmente vêm de experiências ruins por não convidar os dois novos participantes. Nesse caso, passado algum tempo, depois de ter ajudado o participante a cumprir o seu compromisso, este pode afastar-se voluntariamente, ou pode ser “roqueado” (trocado) por outro elemento do tear ou, em última instância, substituído e, desta forma, o tear pode avançar. Não é direito deste participante solicitar a devolução do presente realizado, pois trata-se de um presente e há uma carta legal que o comprova. Existem muitas alternativas para “consertar” uma mandala que sofre deserção ou mudança de posição de um membro, mas não comentaremos sobre elas nesta ocasião. A verdade é que existem esquemas que se reinventam mesmo quando resta apenas uma pessoa.

Em suma, um tear pode parar ou até desaparecer se as pessoas que o compõem não cumprirem as exigências previamente acordadas.

Qualquer operação com dinheiro envolve certos riscos mas não é uma farsa. Todos os “investimentos” apresentam risco. Comprar ações é isento de risco? Comprar títulos (privados ou públicos) é isento de risco? Solicitar um empréstimo a um banco é isento de riscos? Assinar um contrato de construção é isento de riscos? Adicionar contribuições a um fundo de investimento não apresenta riscos? A aquisição de criptomoedas (bitcoin) com a sua conhecida volatilidade é isenta de riscos? Até mesmo depositar as suas economias num banco é isento de riscos? (taxas e comissões, desvalorização pela inflação, etc.)

No caso dos teares, as regras são claras desde o início.

Em suma, acredito que aqueles que tiveram uma má experiência, guiados pelo seu EGO ferido, têm mais facilidade em culpar estes sistemas alternativos, rotulando-os de crime, do que reconhecer que simplesmente não cumpriram os compromissos assumidos.


"É UM ESQUEMA DE PIRÂMIDE"

Automaticamente logo após o termo “esquema”, é adicionado o adjetivo PIRAMIDAL. Este é o principal argumento recebido por quem pretende atrair ou incorporar novos participantes. Por isso é importante entender do que se trata.

Em economia, um esquema empresarial em que os participantes têm de recomendar e atrair (referir) mais clientes é conhecido em economia como esquema de pirâmide, fraude de pirâmide empresarial ou esquema de pirâmide com o objetivo de que os novos participantes produzam lucros para os PARTICIPANTES ORIGINAIS.

O modelo de investimento em pirâmide é simples, os primeiros investidores que chegam recebem elevados retornos sobre as suas poupanças, que muitos não retiram mas reinvestem. É o boca a boca desses clientes “satisfeitos” que atrai novos investidores. Um sistema que está condenado a ser insustentável, uma vez que os rendimentos pagos aos primeiros investidores provêm dos rendimentos dos últimos e ao longo do tempo as responsabilidades financeiras da instituição ultrapassam os ativos depositados. Se a pirâmide não for descoberta antes, ela será descoberta quando os depositantes decidirem retirar o seu investimento.

Nos teares, o dinheiro que é dado, doado ou investido vai sempre para os participantes originais?

A resposta é não. 

Nestes sistemas não há nenhuma pessoa ou instituição que esteja no topo da pirâmide, que enriqueça, como aconteceu com o famoso Sr. Ponzi e o seu esquema ilegal que é insistentemente citado e ao qual recorrem aqueles que sustentam que os esquemas de economia alternativa são os mesmo. O esquema Ponzi é mais arriscado e agressivo, consiste numa pessoa ou empresa oferecer ao público uma oportunidade de investimento que paga retornos desproporcionais num curtíssimo prazo. Atraídos pela perspetiva de grandes lucros, alguns correm para depositar as suas poupanças. Chegado o prazo, recebem os lucros prometidos, satisfeitos e orgulhosos da sua astúcia, dão a conhecer isso a outras pessoas, algumas das quais se apressam a aproveitar a oportunidade. De boca em boca, muitos chegam ao sistema.

Aqui reside a fraude: ao contrário do que uma instituição financeira normal faria, o administrador do esquema não investe o dinheiro que lhe chega, mas antes utiliza-o para pagar os elevados retornos que prometeu. Ou seja, o retorno dos primeiros “investidores” vem diretamente do dinheiro trazido pelos que chegaram depois. Os lucros são pagos para dar a impressão de que o sistema funciona e cumpre o prometido, o que atrai mais pessoas.

Pelo contrário, nestes sistemas de economia circular solidária não existe um único operador por onde passa o dinheiro, que o gere. Não existe uma conta bancária única que redistribua. Não há taxas. Não há juros. Insisto, neste “investimento” não há nenhuma entidade financeira que prometa lucros extraordinários que depois não possa cumprir. Não existe Madoff, não existe Ponzi!!

Quem recebe o valor previsto fá-lo apenas uma vez e depois sai do sistema. Nesse momento o sistema abre em dois. Agora são duas NOVAS pessoas que vão receber o dinheiro, seguem viagem e afastam-se. E assim por diante. Reitero, em nenhum momento os Participantes Originais ou quem está no topo de uma pirâmide enriquecem.

Penso que um sistema de pirâmide pode ser o caso dos vendedores da Herbalife (por exemplo), onde os principais lucros de uma empresa provêm do recrutamento de novos distribuidores e não da venda direta de produtos aos consumidores. Nessa pirâmide, que necessita de uma base constante de novos distribuidores (que investem), quem não sobe tende a perder dinheiro.

Vale a pena perguntar, sem entrar em detalhes, mas quem quiser pode ir mais fundo: O sistema bancário atual não é um sistema piramidal? O sistema de Segurança Social onde os trabalhadores ativos pagam as pensões dos reformados não é um sistema piramidal? E o Estado em geral, a Igreja, a Escola e as grandes Corporações? O atual sistema capitalista não é piramidal?

Vamos analisar este último.

A economia capitalista precisa de um crescimento económico e monetário exponencial para conseguir manter o pagamento de juros sobre o capital, e claro, como no esquema de pirâmide, é impossível sustentá-lo no longo prazo...

O golpista da pirâmide precisa continuar a arrecadar dinheiro a todo custo, para isso precisa encontrar cada vez mais pessoas iludidas para fornecer liquidez. A economia capitalista faz exatamente a mesma coisa, só que obtém liquidez inflacionando a massa monetária com base na dívida, gerando cada vez mais consumismo, aumentando a produtividade a todo custo (normalmente à custa do trabalhador), espremendo os recursos do planeta como o sumo que sai de um limão... E é claro que, quando se atingem certos limites, recorre-se às guerras, aos "arrefecimentos" económicos, à fome de milhões de seres humanos, etc., para "repensar as coisas" mas, no longo prazo, a corrente do sistema permanece completamente insustentável.


“É UM SISTEMA MATEMATICAMENTE INVIÁVEL”

Tendo já deixado claro que não se trata de uma fraude e muito menos de um esquema de pirâmide, resta-nos abordar o último argumento contra estes sistemas alternativos. Quem gosta de matemática e estatística afirma que isso é impossível porque não há infinitas pessoas no mundo.

No caso hipotético de todos participarem de um tear, depois de alguns anos, pela exponencialidade, 12% da população ter-se-ia dedicado a receber o dinheiro, e 88% não, e não haveria mais gente, ou seja uma verdade matemática.

Haveria então uma cadeia que se rompe assim que o mercado fica saturado e apenas os primeiros, os localizados no topo da suposta pirâmide, acabam ganhando às custas dos demais.

Mas aqui há outra verdade, a suposta “pirâmide” do tear está 17 vezes melhor distribuída que o capitalismo atual, matematicamente falando.

A pirâmide capitalista é clara, 0,7% da população detém 82% da riqueza mundial. Ou seja, 0,7% é beneficiário e 99,3% não.

Sem falar que os 0,7% de beneficiários da riqueza atual do mundo são e serão os mesmos de sempre, e não vão deixar ninguém colocar os seus negócios em risco.

Por outro lado, os 12% beneficiários da economia solidária são o seu amigo, o seu vizinho, o seu irmão, o seu companheiro, os seus filhos.

Se todos participassem de uma mandala ou tear, esses 12% equivaleriam a 960 milhões de habitantes, algo como 96 países com a população de Portugal teriam realizado seus sonhos.

Dos cerca de 8 mil milhões de habitantes mundiais, 0,7% equivale, aproximadamente, a apenas 56 milhões.

Além disso, o Tear ou mandala está a aplicar esta proporção de 12% a 88% sobre uma fração do dinheiro, enquanto o capitalismo está a distribuir estes 0,7% a 99,3% sobre toda a riqueza, incluindo principalmente os recursos naturais finitos.

Neste sentido, como diz Perez Oca, o planeta Terra NÃO É INFINITO, e está a ser destruído por um crescimento descontrolado que produz, entre outras coisas, o esgotamento das matérias-primas, perturbações no clima e o empobrecimento do Terceiro Mundo, precisamente onde há essas matérias-primas essenciais para o “desenvolvimento” e o “crescimento”.

Mas o crescimento do Sistema, por mais que se inventem as chamadas Crises Planeadas, por mais que se organizem muitas guerras, por mais que se procurem novos mercados, também NÃO PODE SER INDEFINIDO. Mais cedo ou mais tarde a bolha irá estourar, quando não puder crescer mais um milímetro, perceberemos que o capitalismo é o verdadeiro SISTEMA PIRAMIDAL MATEMÁTICO, SOCIAL, AMBIENTAL E ECONOMICAMENTE INVIÁVEL... mas... isso mesmo: socialmente aceite.


CONCLUSÃO

O sistema de economia solidária não é perfeito, tem as suas falhas e pontos fracos. Mas existe algum sistema que não os tenha???

Capitalismo, socialismo, comunismo, etc. pelos inconvenientes que cada um acarreta. Tudo imperfeito. Esses ainda são sistemas impostos.

Nos sistemas de economia solidária ou circular sagrada, sejam eles quais forem, cada pessoa escolhe se quer fazer parte ou não. Não há chefes nem empregados e pode-se entrar e sair a qualquer momento. E pode ser muito divertido. 

Um tear está em constante construção, os protagonistas mudam permanentemente, não são os mesmos “jogadores” de sempre. Cada novo tear tem a oportunidade de criar novas regras.

É verdade, o fracasso é uma possibilidade, mas esse fracasso não é uma farsa. Podemos errar em qualquer aspeto da vida, principalmente quando assumimos riscos, e isso inclui qualquer decisão que envolva dinheiro. Só que neste caso particular não depende das decisões de políticos, banqueiros, soldados ou de ricos ou poderosos influentes. A decisão de entrar é sua, não imposta, com regras claras desde o início. Não há segredos ou letras miúdas. Não é um depósito a prazo, fixo, em Euros, que rende 1 a 3% ao ano (Portugal). 

Claro que não é fácil e é preciso esforçar-se e dedicar algumas horas por semana. Mas a oportunidade de ganhar até 8 vezes o valor doado torna esta proposta imbatível.

Trata-se de confiar neste sistema e na boa vontade das pessoas que o compõem.

Como sociedade, estamos cansados dos abusos exercidos pelas instituições. Queremos uma mudança urgente, queremos fazer parte dessa mudança. O sistema atual está a destruir-nos, como sociedade e como planeta. O supermercados estão cheios de comida e produtos de consumo mas a alma de muita gente está vazia e doente.

Esses sistemas chegam até nós como uma alternativa real. Como uma possibilidade de um futuro melhor para as futuras gerações. Como uma cura.

Aqui só existe a lei da palavra e da honra, trata-se do poder e do compromisso que elas geram, que te convida a comprometeres-te com um determinado grupo de pessoas e contigo mesmo, a lutar por um bem comum. Muitas vezes tenho fortes suspeitas de que as “outras” leis foram promulgadas para exercer controlo sobre a maioria e beneficiar a minoria.

Por tudo isso, acredito que estes sistemas alternativos, injustamente chamados de “esquemas” (scams), se forem desenvolvidos de forma limpa e transparente, não prejudicam ninguém e podem dar algum bom conforto financeiro a muitos. Certamente a perseguição estatal continuará a encorajar notícias falsas para impedir a sua propagação, defendendo os seus cofres públicos sempre que envolvam grandes movimentos de dinheiro sem qualquer controlo ou tributação. Mas também isso é incorreto pois qualquer doação é uma operação perfeitamente legal em qualquer parte do mundo, podendo ser declarada pelo recebedor e tributada de acordo com a lei local do seu país. 

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Texto original de Andrea Cazaux. 

Tradução e adaptação para português por Carlos Lopes


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